Contextualização
Assim como nos casos das peças constituídas por materiais metálicos, cerâmicos ou compósitos, as peças constituídas por materiais termoplásticos também necessitam ser submetidos à uma análise de viabilidade econômica durante as fases iniciais de desenvolvimento da peça. Esta análise é justificada pela necessidade de se conhecer o nível de competitividade que a peça a ser desenvolvida terá perante seus concorrentes no mercado. Portanto, previamente à concepção do design final da peça, uma qualificação técnico/econômica deve ser cautelosamente obtida. Mesmo que a peça eventualmente apresente desempenho técnico superior em relação as demais peças encontradas no mercado, uma vantagem econômica do novo design da peça deverá ser facilmente percebida pelo consumidor final.
Preço X Custo
O custo para fabricação de uma peça termoplástica pode ser obtido através do apontamento detalhado de todos os recursos empregados no processo de fabricação. Já o preço da peça, contempla não apenas os custos de produção, mas também outros elementos como, por exemplo, custos com distribuição, variadas alíquotas de impostos, comissões de venda, despesas com marketing, entre outros. Com exceção dos reajustes relacionados à matéria prima, insumos, salários, energia, sazonalidade, entre outros, o custo de produção pode ser considerado como sendo um valor “Fixo”, porém, o preço final do produto dependerá de variáveis como, por exemplo, quantidade de peças do pedido, logística, alíquotas de impostos municipais, estaduais e federais, comissão de venda, entre outros. Portanto, para facilitar a compreensão do processo de elaboração de preço de peça termoplástica, os itens nº 3 à 8 abordarão as etapas para definição do custo de produção, e o item nº 9 relatará especificamente sobre a definição de preço.
Desenvolvimento de produto
Conforme mencionado no item nº 1, o desenvolvimento da peça deve ser realizado levando em consideração sua competitividade diante o mercado, pois o preço final será fortemente impactado pelo custo de fabricação. Portanto, além de atender aos requisitos técnicos e funcionais que a determinada aplicação da peça termoplástica exigir, o desenvolvimento deverá ser pautado por quatro premissas básicas, sendo elas, a) Nível adequado de eficiência técnica e funcional, b) Limite de peso, c) limite de espessura de parede e d) design compatível com o processo de fabricação.
3a: O desenvolvimento da peça obviamente deve ser realizado de maneira que supra todas as exigências técnicas e funcionais peculiares à sua aplicação. Portanto, a utilização de impressão 3D para testes funcionais deve ser empregada, pois possibilita que o designer tenha a oportunidade de aprimorar o modelo da peça em busca do maior desempenho técnico/funcional possível, sem a necessidade da preparação do processo produtivo para fabricação de protótipos, o que impactaria significativamente nos custos e no tempo de desenvolvimento.
3b: Com raras exceções, o material termoplástico é a varável que mais impacta no custo de fabricação. Portanto, o designer da peça deve, além de atender aos requisitos descritos no item 3a, conceber o produto de maneira que seu peso não comprometa sua competitividade no mercado.
3c: Devido à sua elevada capacidade calorífica e baixa condutividade térmica, materiais termoplásticos resfriam em tempo relativamente extenso. Portanto, esta característica do termoplástico tende a impactar de maneira desfavorável em relação à produtividade e, consequentemente, em relação ao custo de fabricação. Para amenizar este efeito, é recomendável que peças plásticas sejam concebidas utilizando espessura de parede menor do que três milímetros. Esta recomendação contribui para reduzir o tempo de resfriamento do material, proporcionando maior velocidade de produção e, ainda, contribui para evitar tensões residuais que geralmente ocorrem durante resfriamento de peças excessivamente grossas.
3d: Dentre todos os tipos existentes de moldagem de peças termoplásticas, é necessário que o designer contemple no desenvolvimento as peculiaridades do tipo de moldagem que se pretende adotar para a fabricação da peça. Se o tipo de moldagem escolhido for o processo de moldagem por injeção, faz-se necessário que o design da peça possua requisitos como, por exemplo, geometria compatível com o processo de injeção, ângulos da peça que possibilitem sua extração do molde, espessuras de parede menores do que três milímetros e pouca variação de espessuras ao longo da peça.
Viabilidade para fabricação
Além do que já foi abordado no item nº 3, a viabilidade para fabricação da peça plástica deve considerar a demanda da peça plástica no mercado e o valor do investimento para desenvolver o processo produtivo da peça. Máquinas para a moldagem como, por exemplo, injetoras, sopradoras e extrusoras em geral possuem valor de investimento na faixa de cinquenta a quinhentos mil dólares americanos, dependendo do tamanho e da complexidade do molde ou matriz. Moldes e matrizes por sua vez, possuem valor de investimento na faixa de cinco a duzentos mil dólares americanos. Portanto, se a demanda e o preço da peça no mercado não permitir um retorno do investimento em um prazo compatível com os interesses do investidor, evidencia-se uma inviabilidade para fabricação da peça plástica.
Matéria prima
Existem dezenas de tipos de termoplásticos, variando suas características, propriedades e preço. O polipropileno, polietileno, poliestireno e o PVC (Policloreto de Vinila) são termoplásticos conhecidos como commodities (uso comum) e seus preço variam aproximadamente entre dois à quatro dólares americanos por quilo do material. Estes materiais são utilizados na fabricação de peças como, por exemplo, para-choques de veículos, utensílios domésticos, componentes de refrigerador domiciliar, tubos e conexões hidráulicas na construção civil. Os chamados materiais de engenharia e os de alto desempenho possuem valor na faixa de cinco a dez dólares americanos por quilo do material. Estes materiais são utilizados na fabricação de peças que exigem algum tipo de desempenho específico, como, por exemplo, elevada resistência térmica, elevada resistência mecânica, elevada resistência química ou dielétrica. Portanto, dependendo das exigências técnicas da peça termoplástica, o preço do material poderá impactar significativamente.
Para calcular o custo com matéria prima, basta utiliza a seguinte fórmula. Onde Cm: Custo com matéria prima, Pm: Preço do material em quilos, Pp: Peso da peça em gramas.
Processo de fabricação
O processo de moldagem de peças termoplásticas consiste basicamente em aquecer o material granulado que inicialmente se encontra em um estado físico que podemos chamar de sólido (Por definição, termoplásticos não atingem o estado sólido na temperatura ambiente), posteriormente este material é empurrado para o interior de um molde ou matriz, conformando-se à sua geometria interna, e à medida que resfria à uma temperatura de aproximadamente oitenta graus celsius é extraída a peça conformada. Portanto, conforme descrito no item nº 3 e conforme a tecnologia empregada no projeto do molde/matriz, obtém-se uma capacidade produtiva do conjunto máquina e molde de injeção.
Pertinente ao que foi descrito no item nº 4, dependendo da demanda da peça, do seu design, do tipo de termoplástico empregado e da tecnologia do molde e da máquina, pode-se alcançar um nível de produtividade que viabilize todo o investimento no processo de fabricação. Em geral, quanto maior a produtividade do conjunto máquina/molde, menor o custo de fabricação e, portanto, maior será a competitividade da peça termoplástica diante do mercado.
Para calcular o custo com a fabricação, é necessário conhecer o gasto com energia elétrica, gasto com mão de obra envolvida, gasto com manutenção da máquina e do molde/matriz e o gasto com a depreciação dos equipamentos (máquina, molde e periféricos), confrontado estes gastos com a capacidade produtiva, conforme fórmula abaixo. Onde, Cf: Custo de fabricação, Df: Despesas com fabricação e Cp: Capacidade produtiva.
Embalagem
Somados aos custos com matéria prima e com o processo de fabricação, deve-se contemplar também os custos com embalagens das peças plásticas produzidas. Peças com baixa exigência estética e sem tendencia de serem danificadas no transporte exigem custo reduzido com relação à sua embalagem e, portanto, não são impactadas significativamente com relação ao custo final da peça. No entanto, peças que exigem maior proteção para transporte ou que precisam utilizar embalagens especiais que realcem sua aparência, podem apresentar custo com embalagem que supere até mesmo os custos com matéria prima e com a produção. Portanto, é necessário conhecer previamente, ainda nas fases descritas nos itens nº 1, 2 e 3, o tipo de embalagem que a peça ou o mercado consumidor exigem, possibilitando desta maneira calcular com segurança todos os custos envolvidos da fabricação da peça.
Armazenagem
Peças termoplásticas após serem produzidas na fábrica, podem exigir volume para armazenamento que não impactem significativamente no apontamento dos custos para produção, no entanto, existem peças que possuem grandes volumes e, combinado a isso elevada demanda de produção, podem significar elevado investimento para armazenamento destas peças, o que impacta significativamente no custo de fabricação.
Definição de preço
Existem várias maneiras, contabilmente, de realizar a precificação de produtos, isto porque há diversas variáveis para definir o preço de um produto, dependendo da destinação que lhe será dada, como por exemplo: Se o produto vai ser vendido para um comércio, indústria, ou ainda, se entrará na cadeia produtiva ou para revenda.
Outro ponto importante a considerar é a forma de tributação da empresa que está precificando o referido produto.
- Tributação pelo Simples Nacional
Nesta modalidade tributária não é possível realizar o aproveitamento de créditos tributários na compra da matéria-prima, energia, etc., desta forma, estes tributos serão calculados como parte do custo da matéria- prima.
Sendo assim, se faz necessário estudar previamente se é vantajoso para a empresa ser tributada pelo regime do Simples Nacional, sendo comum que as empresas que não fazem a aquisição de matéria -prima estarem cadastradas no Simples nacional.
Exemplo:
Matéria Prima Polipropileno
Valor: R$10,00 o kg.
ICMS: R$1,70 (17%)
O valor da matéria-prima que vai ser utilizado no estoque é de R$ 10,00.
- Empresas do Lucro Presumido e Real
Nestas duas modalidades de tributação existe a possiblidades de tomar créditos da matéria-prima, energia, etc., sendo assim o custo do produto seria o valor da matéria-prima deduzido o valor do imposto.
Se faz necessário descobrir se este regime se encaixa melhor no perfil da empresa.
Exemplo:
Matéria Prima Polipropileno
Valor: R$10,00 o kg.
ICMS: R$1,70 (17%)
O valor da matéria –prima que vai ser utilizado no estoque é de R$ 8,30.
- Formas de Rateio
Existem diversas formas de rateio dos custos que envolvem todos os setores de uma empresa, sendo necessário analisar a melhor forma de partilhá-los.
Temos por exemplo o aluguel do imóvel onde está localizada a empresa.
Considerando que a empresa paga R$ 30.000,00 de aluguel do local onde estão as máquinas injetoras e máquinas de sopro, verifica-se que há então duas áreas diferentes de produção de peças.
Se a precificação está sendo realizada sobre o produto produzido pela máquina injetora, uma das formas possíveis de se realizar o rateio é descobrir o percentual de ocupação das máquinas injetoras no local.
Exemplo:
Os setores das máquinas injetoras ocupam 40% do local da empresa, sendo assim poderia ser considerado que este setor vai ser responsável por custear o valor de R$ 12.000,00 do valor do aluguel.
Após isso é necessário verificar quantas máquinas injetoras ocupam este espaço e após ratear o valor do aluguel entre as máquinas existentes.
Exemplo:
No setor de máquinas injetoras há 10 máquinas do mesmo tamanho.
R$ 12.000,00 / 10.
Custo do aluguel por máquina injetora é de R$ 1.200,00 por mês.
Com estas informações podemos encontrar o custo do aluguel por máquina.
- Cálculo hora máquina
- Total Hora Máquina Mês = 44 horas;
- Valor Hora de Mão de Obra Direita = R$20,00
- Valor Rateio aluguel hora = (R$1.200 / 44)= R$27,24
- Valor Energia hora = R$50,00;
- Valor Hora depreciação de equipamentos = R$5,00
Custo Fixo Hora = R$ 102,24
- Custo de Matéria-prima
Tendo como exemplo uma empresa cuja tributação é realizada pelo Simples Nacional, onde não possibilidade de dedução de tributos.
Matéria Prima Polipropileno
Valor: R$10,00 o kg.
- Custo com embalagem em geral
Valor Caixa = R$5,00;
- Precificando o produto
Tendo como exemplo a fabricação de um copo plástico com as seguintes informações:
- Capacidade produtiva de 100 peças horas;
- Peso peça = 0,3kg
- Valor Matéria prima peça = (R$10 / (1kg / 0,30kg)) = R$3,0;
- Volume de 100 copos por caixas = R$5/ 100 = R$0,05;
Custo fixo por peça = (R$102,24 / 100) =R$1,0224;
Despesa Variável com Matéria prima e embalagem por peça = R$3,05;
Custo de fabricação = (R$1,0224 + R$3,05) = R$4,0724
O Custo de fabricação da peça é de R$4,0724, porém não podemos parar por aqui, sendo necessário colocar uma contribuição para pagar as despesas administrativas, lucro desejado e o imposto.
Se for definido o percentual de 10% do custo fixo e variável como contribuição para as despesas administrativas.
- Contribuição com despesas administrativa = (R$4,0724 * 10%) = R$0,40724;
- Lucro Desejado = (R$2,00);
- Preço peças antes do imposto = R$6,48;
- Imposto 10% = R$0,648;
- Preço final peça = R$7,128;
Sendo assim, a maneira demonstrada foi uma das várias possíveis de se realizar a precificação de um produto.
Há ainda inúmeras variáveis que deveriam ter que se levar em consideração tais como demais custos de fabricação, despesas com frete, comissões, etc.
A cautela com a precificação do produto é de extrema importância, em razão de que o preço errado pode acarretar enormes prejuízos, já que o cálculo deve abranger todo o custo e despesas geradas pela empresa.
Também se faz necessário uma especializada controladoria de custos para se ter certeza de que a fabricação está ocorrendo dentro dos parâmetros considerados no cálculo dos custos.